segunda-feira, 19 de junho de 2017

Sombras - Os Golfinhos - Os Pássaros - Descanso - A Areia




Sombras

Esgueirando-me entre a penumbra
                                            e as sombras
Desviando-me do amanhecer sorrateiro
Eu vagueio pelos pensamentos
Sem saber se encontrarei a minha luz.

Procurando o silêncio do tempo
                                               e das sombras
Afastando-me da urbanidade matreira
Eu vagueio de archote em punho
Sem saber se encontrarei a minha luz.

Fugindo das canções coladas à pele
                                               e às sombras
Buscando a pátria prenhe de orfandade
Eu vagueio debaixo do sol intenso
Sem saber se encontrarei a minha luz.

Tropeçando nos ódios escondidos
                                               nas sombras
Atropelando os rancores manhosos
Eu vagueio de estrela em estrela
Sem saber se encontrarei a minha luz.

Navegando por mares selvagens
                                               mas sem sombras
Afogando-me nas esperanças vivas
Eu cheguei à tua morada iluminada,
Ceguei, pois encontrei a minha luz.

 

 

Os Golfinhos

 
Desfocando o breu da noite
O farol mostra o anúncio do dia,
Rasgando as ondas, as águas
Com uma estrada luminosa.

Impassivelmente cruel
O farol mostra-nos às escondidas
A realidade que tememos mas desejamos.

Lentamente, o farol acorda os golfinhos, que
Saltam por saltar, sem felicidade ou tristeza
E assim atraídos, deixamo-nos cair ao mar.





Os Pássaros

 
Voam sós ou em bandos
Falam a cantar e cantam
Aos pássaros quem os ouve?

Sulcam o ar, bebem o vento
Perdem e ganham forças
Aos pássaros quem os ouve?

Vivem sem saber o que é viver
E entretanto fazem-se ouvir
Aos pássaros quem os ouve?

Evito tocar-lhes nas penas
Recuso sentir-lhes o nervosismo
Prefiro saber ouvi-los.

Quero saber das suas migrações
Quero ouvir o que viram
Quero saber porque são nervosos
Quero que me ensinem a voar
Quero namorar como eles
Quero viver por instinto
Quero construir um ninho
Quero saber ouvi-los.
Quero cantar como eles.

 

 
Descanso

 
A tua voz  esvai-se na brisa
A brisa diz-me que estás cansada.
Os teus olhos fecham-se no jardim
O jardim diz-me que estás cansada.
As tuas mão poisam no ar
O ar diz-me que estás cansada.
O teu corpo entrega-se à cama
A cama diz-me que estás cansada.
Os teus beijos derretem-se na minha boca
A minha boca diz que tu estás cansada.

Toco-te e o teu corpo descansa
Mas tu continuas cansada.
Aqueço-te a pele e o teu corpo descansa
Mas tu continuas cansada.
Afago-te os cabelos e o teu corpo descansa
Mas tu continuas cansada.
Beijo-te os olhos e o teu corpo descansa
Mas tu continuas cansada.
Penso que te canso e vou-me embora
Mas tu continuas cansada.

Trago-te areia e mar para amares
E sinto-te descansada.
Trago-te estrelas e pedras para amares
E sinto-te descansada.
Trago-te pássaros e sol para amares
E sinto-te descansada.
Trago-te crianças e flores para amares
E sinto-te descansada.
Trago-te a beleza e a bondade para amares
E sinto-te descansada.

Voltaste a encontrar-te.

 

 
A Areia

 
A areia bebe o mar
E sacia a sede de viver.

Nós, grãos de areia
Átomos insignificantes
Não sabemos que temos sede.

Nós, pisamos a areia
Tocamos-lhe sem a ver
Bebemos e não matamos a sede.

Nós, dançamos na areia
E só quando caímos e nos sacudimos
Vemos que a areia existe e não tem sede.

A areia não nos larga
E leva-nos até ao mar.

 

FL Wright

Sem comentários: