segunda-feira, 12 de junho de 2017

O Mar - A Procura - Esperança




O Mar

 
Abro os braços e solto energia
Este peso que paira sobre mim.
Liberto-a, libertando-me...

Na sublime suavidade da brisa
Essa energia é conduzida ao mar
Para onde me dirijo quando estou perdido.

Descalço, os meus pés acariciam a areia
Eternamente acariciada pelo mar
Agora dono provisório daquela energia.

Deixo a espuma timidamente tocar-me,
Convidando-me para uma cerimónia
Em que o mar é sacerdote.

O mundo real desapareceu
Agora só existem as ondas e eu
Num ritual de purificação.

Nu de corpo e alma
Recebo ondas de outra energia
Ondas que me falam de ti.

À medida que te vou conhecendo
Vislumbro a forma de uma sereia
Que, em oração, me fala da energia recebida.
 
Tocamo-nos sem contacto
Choramos lágrimas de felicidade
Que escorrem pelos nossos corpos.

Lágrimas que abraçam o mar,
O mar que chora feliz
Por te entregar a minha energia,

O mar que se lava nas nossas lágrimas, feliz
Por me entregar a tua energia,
E nos abençoa.

 

A Procura

 
Acordei com gelo nos olhos.
As lágrimas ardentes de ontem,
Arrefecidas pela desilusão de não me conhecer,
Voltaram a  formar o casulo do meu passado
Para onde irei hibernar.

Vou regressar ao sono eterno
Sem precisar da sombra da árvore da tristeza.
Não mais amarei a tua beleza,
A da solidão de um nenúfar.
Procuro o meu passado para hibernar.

Bem cedo desisti de procurar
O triângulo do meu equilíbrio.
Até que tu apareceste,
Tocando com as tuas mãos de seda
No meu casulo de hibernação.

Apareceste no meu vazio
E voltou a necessidade de procurar.
Tudo o que procurava encontrei em ti,
Na magia da tua omnipresença,
Acordaste-me da hibernação.

Julguei que te tinhas fixado
Na profundidade dos meus olhos,
E que tudo era claro, tão transparente
Como as tuas lágrimas.
Assustaste-te com a escuridão da minha hibernação.

Vejo-te confusa e perplexa
Deixas-te assaltar pela dúvida
E perguntas-me o que procuro,
Se ainda preciso procurar.
Se ainda não acabei a hibernação.

Não vejo o casulo e sinto-me acordado.
Ferido por palavras cravadas na carne,
Enterradas no funeral da esperança
Que se afunda em piroga putrefacta,
Sinto próximo o sono da hibernação.

Voltam as sombras frias
O prazer de arrefecer vem aquecer a alma gelada.
Não vale a pena continuar a procurar o que não existe.
Os soluços que oiço são ilusões desfeitas pela incompreensão.
Sinto próximo o sono da hibernação.

A raiz do mal de viver
Cresce, regada pelos soluços,
Secos de esperança,
E segreda-me: não existe ninguém mais.
Sinto a urgência do sono da hibernação.

Anestesiado pelo frio, quase esqueci o sol.
Vejo-o e vejo-te: como é lindo o teu sorriso.
Existe alguém, também ferido mas sorridente: tu.
Envergonhado por te decepcionar
Luto contra o sono da hibernação.

Sinto que não presto.
O sofrimento passeia à minha volta,
Semeado pela semente da infelicidade
Que cresce em mim.
Não tenho força, quero hibernar.

As chamas da destruição
Não me conseguirão purificar.
O meu olhar está vazio, sem alma.
Sem procura,
Adormeço na hibernação.

Volto ao meu casulo,
À ausência da procura
À rejeição das tábuas de salvação
Que encontrei e nunca procurei.
Volto à hibernação.

Conheci quem me completasse,
Quem justificasse a minha existência.
Mas acabou. O meu vírus da procura afastou-a .
Mais vazio que nunca,
Vou viver no vazio da hibernação.

O vazio tem todo o tempo do mundo
Para manter o meu corpo biológico,
Inerte, sem desejo, sem vontade.
Apodrece corpo! Depressa! Nada mais vale a pena!
Acaba com esta maldita hibernação!

Apodrece semente indestrutível!
Preciso isolar-me.
Na solidão, a semente da infelicidade
Não crescerá, nem contaminará ninguém.
O casulo da hibernação será destruído.

Estou de luto por mim e por ti.
Não me perdoarei perder-te.
Não quero hibernar, tenho tanto para te dar.
Preciso tanto do que tens para me dar.
Não quero hibernar.

Tu és tudo o que eu quero
És o único antídoto deste sono letal
Tu és a chama do meu ego
Ainda que sejas uma ilusão cruel
Que me empurra para o soluço desta dor.

 

 
Esperança

 
Quero que sintas a tua importância
Quero conquistar-te vezes sem conta
Não, pelo prazer que um lírio tem
Ao ser beijado e aspergido por um beija-flor.
Mas sim, para me ultrapassar a mim próprio,
Com a certeza que o amanhã existe.
Contigo.

Sinto o mesmo querer da tua parte
Conquista-me vezes sem conta
Não, pelo prazer que um beija-flor tem
Ao beijar e aspergir um lírio.
Mas sim, para te ultrapassares a ti própria,
Com a certeza que o amanhã existe.
Connosco.

A iluminação dos deuses
Desce sobre as nossas cabeças;
A música espalha-se pelo nosso corpo.
O amanhã é agora.

 
 
E Hopper, sea watchers
 

 

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