sexta-feira, 16 de junho de 2017

As Estações - O Barco - Alma - Sexo




As Estações

 
Beijas-me e dás-me o sopro da vida,
Enches-me o eterno Inverno
Em que me movimento,
De Primavera.

Sopras-me provocações carnais
Aos meus ouvidos Outonalmente adormecidos
Fazes-me chegar de repente
O Verão.

Sacias-me sem limites
Cansas-me o corpo Estival
Receio o envelhecimento
No Outono.

Unes-te a mim
Cantamos a Primavera em uníssono
Derrotamos os receios
Venha o Inverno.

 

 

O Barco

 
Velejo solitário
Procuro o meu Eu
O vento sopra forte
O barco desequilibra-me
O meu Eu é mutante.

Velejo solitário
Em busca do horizonte
O sol alterna com a chuva
O barco flutua no equilíbrio
O meu Eu é mutante.

Velejo solitário
Procuro a tua companhia
Encontro o teu riso
O barco afunda-se
O meu Eu é náufrago.

Velejo sem barco
À bolina contigo.

 


Alma

 
Nos dias vazios e sem fim
A alma vem-me à boca,
Fala-me da saudade
De respirar os teus suspiros.
Faz-me sangrar sem sangue.

Salto por cima das ruínas das recordações
A alma vem-me à boca,
Fala-me do vazio do prazer
Perdido nos destroços da satisfação.
Faz-me sangrar sem sangue.

Absorvo com sofreguidão as sensações
A alma vem-me à boca,
Fala-me dos encontros com o prazer
No exterior da satisfação.
Faz-me sangrar sem sangue.

Respiro ar fatalmente saturado de sensações alheias
A alma vem-me à boca
Fala-me do prazer que não sinto
O prazer dos outros.
Faz-me sangrar sem sangue.

Encontro-te encontrada
A alma vem-me à boca
Não me fala
Dissolve-se em farrapos.
Farrapos de alma não fazem sangrar.

A alma escorre inerte
Na boca sabe a mel e fel
Macia como veludo
Mistura-se no meu sangue
Misturado com o teu.

O mundo absorve todas as cores
Os pedaços de alma juntam-se
Num milagre pagão
O nosso sangue adquire força
A força do desejo de sermos um.

 

 

Sexo

 

A música flui
Sem ser ouvida
Cada instrumento freme
Ao ser tocado
Junta novos timbres
À voz que se faz ouvir
A orquestra ouve-se
Com prazer
O sangue aflui orientado
A partir dos ouvidos
O entumecimento fálico
Penetra na humidade
Participando numa orgia de sons
Até à explosão orgástica
Da nossa união
Até ao acalmar
Da nossa respiração
Até ao esbater
Da nossa excitação
Terminando num prelúdio
À minha necessidade
De me transferir
Para dentro de ti
Tocando os compassos
De uma nova afluência
De sangue-vida
À tua necessidade
De me receber
Bem dentro de ti
Em toda a glória
De um prazer sem fim
Bebido
Gota a gota
Pelo cálice
Das nossas mãos
Unidas
Numa visibilidade
Invisível
Ritmada
Pelos nossos
Espasmos
Libertadores
De odores
Libertadores
Da excitação
Não mais contida...
...Um prazer sem princípio nem fim...


E Munch, the scream

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