segunda-feira, 12 de junho de 2017

Andorinhas e A Torre do Mal





Andorinhas

 
Azáfama constante,
Voo interminável,
Repouso tardio.

Figuras esguias,
Desenhos subtis,
Moradas vitalícias. 

Aninham-se no teu beiral,
Alimentam-se no teu quintal,
Dão-te o seu chilrear.

Conversam comigo,
Falam-me de ti,
Prometem velar por ti.

Oh, andorinhas,
Vão e voltem,
Façam do meu Amor um ninho.

 

 
A Torre do Mal

 
O ar empestado
Avisa sem piedade
Da proximidade ruim.

O frio cortante
Não se derrete no calor
E ambos me envolvem.

O desconforto faz-me transpirar,
Os meus queixos tremem,
As pernas recusam-se a andar.

O Mal vive naquela Torre
Dizem que não pode ser destruído,
Mas tenho de o enfrentar.

Bato com convicção à porta
Que se abre ruidosamente,
E entro vacilante mas barulhento.

A única abertura da Torre
Fecha-se atrás de mim,
Deixando-me no breu total.

Nada se mexe,
Nada se ouve,
Nada se cheira.

Ah! este nada é o Mal,
Que me envolve e persegue
E não me deixa ver para onde vou.

Grito e invoco a luz,
Oiço um eco ridículo,
E subo degraus sem fim.

Paro, não de cansaço,
Mas para lembrar-me quem sou
E medito sem olhar ao tempo.

Vagarosamente, descontraio-me,
Volto a conhecer o corpo como meu,
Cheira bem, a natureza expressa-se.

Mexo-me, levanto a cabeça,
Sinto a brisa do mar
Atravessar o silêncio da montanha.

Espreguiço-me e sinto-me cheio de energia
Abro os olhos e não paro de rir:
A Torre do Mal desapareceu.


Damien Hirst, beautiful helios

Sem comentários: